Dia Nacional do Estudante, 24 de março

Em 1987, a Assembleia da República Portuguesa declarou o dia 24 de março como o Dia Nacional do Estudante. Desde então, este dia é um símbolo das vitórias conquistadas ao longo das últimas décadas, afirmando a comunidade estudantil do Ensino Superior como elemento determinante para a construção de uma sociedade justa e equitativa, reivindicando os seus direitos por um ensino efetivamente público, gratuito e de qualidade.

Neste dia, relembramos aqueles que lutaram por todos nós, pelo Ensino Superior. Relembramos a união e a perseverança daqueles que conquistaram os direitos de que hoje usufruímos.

Hoje, o país (e o mundo) vive uma realidade diferente, graças aos que outrora lutaram pelas gerações vindouras. Este exemplo histórico deverá viver em todos nós e nortear a nossa atitude enquanto estudantes.

Assim, e como forma de fazer marcar este dia num panorama de pandemia internacional, a AEFCT preparou a presente exposição online, para que a história continue a ser perpetuada junto de toda a comunidade estudantil FCTense.

17 de abril, 1969

Chegada da comitiva com o Presidente Tomás à Praça D. Dinis, para a inauguração do novo edifício das “Matemáticas”

17 de abril, 1969

Alberto Martins levanta-se e diz: “Em nome dos Estudantes de Coimbra, PEÇO A PALAVRA!”

22 de abril, 1969

8 estudantes são suspensos da frequência das aulas. Nesse dia, a Assembleia Magna no ginásio da A.A.C. decreta o Luto Académico com greve às aulas.

28 de maio, 1969

Foi a Dignidade que levou 6000 estudantes a votarem:
Greve a Exames!

2 de junho, 1969

1º dia da Greve a Exames
Coimbra cidade ocupada pela GNR – nem a Sé Velha escapou…

3 de junho, 1969

Operação Flor
Os estudantes descem à baixa da cidade, distribuindo flores à população

14 de junho, 1969

Operação Balão
Concentração nos jardins da Associação

15 de junho, 1969

Meia Final da Taça de Portugal
Cartazes e faixas de apoio à luta dos estudantes no estádio do Calhabé em Coimbra

22 de junho, 1969

Final da Taça de Portugal
Os cadeirões governamentais vazios, com o estádio completamente cheio

22 de junho, 1969

Final da Taça de Portugal
Os jogadores da Académica com as capas caídas, em sinal de Luto!

24 de março, 1962

Foi a 24 de março de 1962 que um conflito nasceria entre os estudantes universitários portugueses e o regime do Estado Novo.

As academias de todo o país reuniam-se no que constituía o primeiro Encontro Nacional de Estudantes, motivado pelo ambiente de tensão criado pelo regime ditatorial, e organizavam a primeira comemoração do Dia do Estudante, que se viria a dar em Lisboa. Não tardou, contudo, a surgir, por decreto ministerial, a proibição das comemorações desse mesmo dia. Milhares de estudantes realizaram “uma concentração na Cidade Universitária, como protesto às determinações do Ministro da Educação”, como destacava o Jornal O Século. A crise duraria vários meses, incluindo greves às aulas, cargas policiais e detenções de estudantes. 

O regime acabaria por retomar o controlo no final desse ano. Contudo, como escreve a TSF, “a longa crise estudantil marcou o despertar para a atividade política de uma geração que, em anos futuros, mostraria ser um dos setores mais ativos da resistência ao Estado Novo” – uma resistência que se voltaria a evidenciar alguns anos mais tarde.

17 de abril, 1969

Inaugurava-se, em abril de 1969, o novo Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra. O Presidente da República, Américo Thomaz, acompanhado pelo ministro da Educação, José Hermano Saraiva, seguiu para a capital dos estudantes, numa época em que a contestação estudantil estava em alta. Foram recebidos por um mar de capas negras, com cartazes em sinal de protesto. Os estudantes estavam por todo o lado – nas ruas e nas faculdades – e faziam-se ouvir. Não havia já forma de o regime as ignorar.

Chegada da comitiva com o Presidente Tomás à Praça D. Dinis, para a inauguração do novo edifício das “Matemáticas”.


Povo e estudantes, empunhando cartazes de protesto, aguardam o desfile militar que sempre acompanhava estas inaugurações.


A comitiva, já com o Reitor e o Ministro das Obras Públicas, aproxima-se do edíficio.

O Presidente da República entrou no novo edifício e discursou perante um público de apoiantes, sendo a entrada condicionada aos estudantes, os quais, na sua maioria, tiveram de permanecer junto da entrada da sala onde decorria a inauguração.

No final do discurso, o presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra, estudante de 3º ano do curso de Direito – Alberto Martins – sobe para uma cadeira, com a capa aos ombros, e profere a emblemática frase: “Em nome dos estudantes de Coimbra, peço a palavra!”. A sala aguardava impacientemente uma resposta, mas a palavra não lhe foi cedida e o Presidente da República, ainda que meio atrapalhado, introduziu rapidamente, num tom autoritário, o seguinte tema de discussão – “Bem, mas agora vai falar o Sr. Ministro das Obras Públicas!”. O ministro não falou: os estudantes abafaram com aplausos e gritos académicos a sessão solene. As autoridades abandonaram intempestivamente a sala.

Foi este o acontecimento que se pode considerar como a gota de água: as vaias que acompanharam a saída da comitiva anunciavam, assim, o início da Crise Académica de 1969 – um período que se alargaria ao longo do restante ano.

Mesmo vendo o seu pedido ignorado, o rapaz que nascera premonitoriamente a 25 de abril, numa rua junto ao castelo de Guimarães – Alberto Martins -, após terminada a sessão de inauguração, faz o seu próprio discurso, oferecendo a palavra a outros estudantes.

Celso Cruzeiro convida os estudantes a entrar no edifício.


Estudantes com os cartazes no átrio.


Sala cheia. Não entra mais ninguém. Prof. Manuel dos Reis prepara a intervenção.


Toma a palavra o ministro Saraiva.
(O bigode e as orelhas feitas na fotografia original em papel são fruto da itinerância que as fotografias tiveram).


Alberto Martins levanta-se e diz:
“Em nome dos Estudantes de Coimbra, PEÇO A PALAVRA!”

Nessa mesma noite, Alberto Martins foi detido por sete agentes da PIDE e passou a noite na cadeia. Um grupo de estudantes exige a sua libertação e é carregado pela polícia. Era, no dia seguinte, libertado ao meio-dia, mas, pouco depois, voltou a ser preso, desta vez pela PJ. Primeiro ficou em Mafra, depois seguiu para o Quartel-General do Porto, de onde só o deixaram sair “quatro meses depois do 25 de Abril, pois estava sujeito ao regulamento de disciplina militar”.

A comunidade estudantil estava pronta para agir. Seguem-se inúmeros protestos e Assembleias Magnas – órgão máximo deliberativo da Associação Académica de Coimbra – nos Gerais, que perduraram durante os meses de abril e maio.


Assembleia Magna nos Gerais. Cartazes nas Assembleias Magnas.

22 de abril, 1969

A 22 de abril, oito estudantes da Universidade de Coimbra foram suspensos e proibidos de assistir às aulas. Como resultado a este acontecimento, a Assembleia Magna decretou, assim, luto académico e as aulas foram substituídas por reuniões e debates permanentes, precisamente no novo edifício da Universidade, que havia sido inaugurado há dias.

8 estudantes são suspensos da frequência das aulas. Nesse dia, a Assembleia Magna no ginásio da A.A.C. decreta o Luto Académico com greve às aulas.

28 de maio, 1969

Quando, finalmente, o ministro da Educação, José Hermano Saraiva, admitiu alguma fragilidade perante a revolta estudantil que assolava a cidade (e o país), a Universidade de Coimbra fecha. O calendário de exames é, contudo, mantido. Como resultado, a Associação Académica de Coimbra lança, então, um documento intitulado “Carta à Nação”, onde pede “uma universidade nova num Portugal novo” e equaciona uma greve aos exames. No entanto, se os universitários decidissem, de facto, boicotar o calendário de exames, estavam a reprovar deliberadamente às unidades curriculares e a colocar como que um pé em África – representava uma ameaça direta de serem mobilizados para as Forças Armadas e enviados para a guerra colonial que se instalava nos países de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Ainda assim, motivados pela dignidade e determinação, resistiram e avançaram: em Assembleia Magna, onde 6000 estudantes se reuniram, mais de 5000 estudantes votaram a favor do boicote aos exames e menos de 200 anunciaram que os iriam fazer.

Foi a Dignidade que levou 6000 estudantes a votarem:
Greve a Exames!


Assembleia Magna que decidiu a Greve a Exames.
6000 estudantes presentes, mais de 5000 votos a favor.

2 e 3 de junho, 1969

A Academia dividiu-se, assim, entre “grevistas” e “fura greves”: a 2 de junho – uma segunda-feira e o primeiro dia do calendário de exames, e, por isso, de greve – vários estudantes chegaram à universidade, acompanhados pelos pais: uns iam obrigados pelos próprios, que não queriam ver as propinas investidas em Coimbra a serem perdidas em nome de uma crise; outros porque temiam as consequências no final desta onda de revolta; um grupo importante fazia-o por convicção, como o liderado por José Miguel Júdice.


Greve a Exames na 2ª feira 2 de Junho 1969.

Ao longo dos dias de exames, os estudantes agitavam decididamente a cidade. A conhecida Operação Flor: Flores para Coimbra, na qual os estudantes distribuíam flores pelos habitantes de Coimbra, foi um sucesso. A profusão era tanta que a Guarda Nacional Republicana (GNR) chegou mesmo a invadir o espaço urbano e a circundar a Sé Velha de Coimbra.

2 de Junho 1969 – 1º dia da Greve a Exames
Coimbra cidade ocupada pela GNR – nem a Sé Velha escapou…


2 de Junho 1969 – 1º dia da Greve a Exames
Jipes da GNR com grades de arame farpado


3 de Junho 1969 – Operação Flor
Após a compra das flores.


3 de Junho 1969 – Operação Flor
Os estudantes descem à baixa da cidade, distribuindo flores à população.

14 de junho, 1969

Depois, dia 14 de junho, foi a vez da Operação Balão: os estudantes desceram, de novo, à baixa, levando balões, onde estavam inscritas “frases revolucionárias” que expressavam os motivos da luta dos estudantes e a sua ligação à população. No Largo da Portagem, quando a polícia se preparava para carregar sobre os estudantes, estes largaram os balões que subiram aos céus aos milhares, e, enquanto estudantes e população se misturavam a fervilhar de felicidade, a polícia ficou sem saber sobre quem carregar.


Operação Balão
Concentração nos jardins da Associação


Operação Balão
Junto ao Teatro Gil Vicente


Operação Balão
No largo da Portagem


Operação Balão
Os balões sobem aos céus…

O governo adjetivava as iniciativas dos estudantes como uma “onda de anarquia que tornou impossível o funcionamento das aulas”. Apesar de os meios de comunicação social estarem proibidos, pela PIDE, de escrever, falar ou mostrar o que se passava na cidade de Coimbra, alguns deles conseguiram mesmo fazê-lo de um modo subtil. Foi o caso do Diário de Coimbra, que continuamente usava recursos estilísticos para explicar algumas operações que os estudantes levavam a cabo no centro da cidade.


A censura amordaçava a imprensa! Só eram publicadas as “notas oficiosas”. O DIÁRIO de COIMBRA, enganando a censura, publica esta maravilhosa prosa referente à operação balão…

Em julho, chegavam os números que confirmavam o sucesso do boicote: quase 87% dos estudantes tinha faltado aos exames. Os outros 13% viram os seus rostos espalhados na cidade com o título de “traidores”, por não terem aderido ao movimento. As caricaturas haviam sido retiradas de livros da Queima das Fitas de anos transatos.


Junho – Greve a Exames
Caricaturas retiradas de livros da Queima das Fitas de anos anteriores, e afixadas pela cidade para divulgação dos traidores (fura greves)

15 de junho, 1969

Em Coimbra, no Estádio do Calhabé, a meia-final da Taça de Portugal deu origem ao aparecimento nos campos de futebol dos cartazes e faixas de apoio à luta dos estudantes. Os estudantes da equipa da Académica venciam, assim, o Sporting por 1-0.


Estádio do Calhabé em Coimbra

22 de junho, 1969

Entretanto, a 22 de junho, realizava-se o final da Taça de Portugal, entre a Académica de Coimbra e o Benfica. Agora, o Estádio Nacional, no Jamor, enchia-se de capas negras e cartazes de protesto. Esperava-lhes, no entanto, um enorme aparato policial: haviam sido distribuídos mais de 3500 comunicados dando conta da luta dos estudantes.

Pela primeira vez, o presidente Américo Thomaz faltava ao evento. Pela primeira vez, nenhum membro do governo marcava presença no evento. Pela primeira vez, a estação televisiva RTP não transmitia o final da Taça.


22 de Junho 1969 – Os cadeirões governamentais vazios, com o estádio completamente cheio


22 de Junho 1969 – Comunicados caem sobre os espectadores!


22 de Junho 1969 – Depois de lidos, os comunicados protegem.

No final, os estudantes acabaram por sair derrotados por duas bolas a uma. Não foi, contudo, essa derrota que impediu os jogadores de colocar as capas aos ombros, em sinal de luto.


Os jogadores da Académica com as capas caídas, em sinal de Luto!

Novamente, o Diário de Coimbra utiliza a metáfora, denominando de “turistas” as forças policiais, enganando a censura e apoiando e divulgando a causa de luta estudantil.


Novamente o DIÁRIO de COIMBRA usa a metáfora para enganar a censura e apoiar e divulgar a luta dos estudantes.

Esta a prosa do editorial do dia 23 de Junho, onde os turistas eram…os polícias.

Apesar da persistência dos estudantes, muitos deles acabariam por ser obrigados a abandonar os estudos e a seguir para África. A Estação de Coimbra-B encher-se-ia de antigos universitários que agora iriam vestir a farda portuguesa noutro continente. Nem nesse momento os jovens se calaram: gritavam em protesto contra a guerra e contra o regime.

8 de maio, 1987

Posteriormente, a 8 de maio de 1987, a Assembleia da República Portuguesa estabeleceu que o dia 24 de março passasse a servir de homenagem à comunidade universitária que lutou pela liberdade em Portugal: estava instaurado o Dia Nacional do Estudante. O decreto (n.º 77/IV) consagra a data, tendo como objetivos “o estímulo à participação dos estudantes na vida escolar e da sociedade” e a “cooperação e convivência entre os estudantes”. São também destacadas como metas “a democratização e o desenvolvimento do ensino”, bem como “a ligação dos estudantes com a comunidade”.

Podes ainda assistir a um vídeo da autoria da RTP com depoimentos de antigos estudantes através da hiperligação abaixo.

Coleção fotográfica derivada do trabalho e dedicação de: fotógrafos amadores da Secção Fotográfica da Associação Académica de Coimbra (entre eles, José Miguéns, José Veloso, Carlos Valente, Renato Leitão, Armando Cunha, António José Mendes, José Manuel Antunes, Hélio Fidalgo, António Portugal – fundador da Secção Fotográfica da A.A.C. -, e tantos outros colaboradores anónimos); fotógrafos profissionais (entre eles, Fernando Marques, Varela Pé Curto e Carlos Ramos, e tantos outros fotógrafos); José Veloso e João Gonçalves, que ordenaram e legendaram as correspondentes fotografias.
As fotografias apresentadas fazem parte do espólio da “Exposição 17 de Abril”, e pertencem, desde 1969, à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, que a preservou até hoje.

Referências bibliográficas

https://observador.pt/2016/03/24/crise-1969-as-imagens-luta-capas-negras-estudantes/

https://forum.pt/estudantes/a-historia-do-dia-nacional-do-estudante

https://www.dn.pt/portugal/o-dia-em-que-os-estudantes-de-coimbra-comecaram-a-revolucao-de-abril-5129770.html

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